Apesar do próprio SUS promover a integralidade do cuidado, o currículo médico ainda se restringe a uma visão biomédica e curativista. Considerando que mais de 80% da população faz uso de alguma Prática Integrativa e Complementar (PICs), é essencial que os profissionais da saúde se capacitem para lidar com essa realidade. Pensando na importância de trazer estas discussões à tona, a Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB-UNESP), desde 2015, conseguiu incluir de forma curricular e obrigatória a todos os alunos uma disciplina sobre PICs. Diante da pandemia e isolamento social, houve a necessidade de continuar a disciplina em formato possível, ou seja, online.
O principal problema enfrentado por essa experiência foi avaliar, na perspectiva dos alunos, a adaptação do curso presencial de Terapêutica Médica para o 4o ano da Medicina, nos moldes do ensino remoto, devido à pandemia de COVID-19
Apesar do próprio SUS promover a integralidade do cuidado, o currículo médico ainda se restringe a uma visão biomédica e curativista. Considerando que mais de 80% da população faz uso de alguma Prática Integrativa e Complementar (PICs), é essencial que os profissionais da saúde se capacitem para lidar com essa realidade. Pensando na importância de trazer estas discussões à tona, a Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB-UNESP), desde 2015, conseguiu incluir de forma curricular e obrigatória a todos os alunos uma disciplina sobre PICs.
A disciplina é ofertada ao quarto ano médico, de forma imersiva em uma semana integral. Como metodologia pedagógica, adotam-se aulas, palestras, rodas de conversa e oficinas de vivências práticas de diversas PICs, sendo todas estas atividades presenciais. No cenário da pandemia, foi necessário abrir mão das atividades presenciais e realizá-las apenas de maneira virtual.
A Semana Terapêutica de 2021 foi realizada de maneira integralmente virtual, com palestras, aulas e oficinas práticas. Contou com mais de 40 profissionais – inclusive um pajé e um médico fitoterapeuta da Floresta Amazônica -, entre palestras e oficinas práticas. Os alunos puderam escolher 6 das oficinas para conhecer e vivenciar. Cada convidado teve a liberdade de equilibrar uma exposição teórica com uma prática, em um grupo menor de 30 alunos. A parte prática era possível ser reproduzida mesmo à distância pelos alunos.
No fim de cada aula, os 93 alunos preenchiam um formulário anônimo dando sua avaliação a cada uma das práticas. A partir deles, foi possível avaliar que, apesar das limitações impostas pelo ensino remoto, a grande maioria deles seguiu avaliando a disciplina de maneira bastante positiva. 73,4% dos alunos entrevistados consideraram a disciplina como essencial na sua formação. 17,2% avaliaram como “útil, mas não essencial”; 6,3% como “pouco útil” e 3,1% como “inútil”. Comparativamente aos outros anos, em que a disciplina foi presencial estes índices não sofreram grandes alterações.
Com relação à avaliação do modelo remoto, os alunos demonstraram compreensão sobre as limitações, embora muitos tenham expressado desejo de poder vivenciar as atividades de maneira presencial, em especial as oficinas práticas relativas às PICs. Quanto às críticas a esse modelo, uma parte dos alunos relatou que o tempo de exposição à tela foi bastante cansativo, e que o modelo virtual teria sido mais exaustivo que o presencial. Por fim, houve alguns problemas técnicos relativos à estabilidade de conexão e utilização das ferramentas virtuais que, no entanto, não prejudicaram o transcorrer do curso de maneira significativa.
Ainda que encontradas algumas barreiras para a realização do ensino remoto, o curso como um todo atendeu às expectativas dos alunos e atingiu o objetivo de introduzi-los às PICs. Além disso, foi possível ter experiências com palestrantes de todo o Brasil, o que não teria sido tão fácil no modelo presencial. O presente relato demonstra, portanto, a possibilidade de ensinar e vivenciar as PICs de maneira remota, ainda que haja algumas perdas com relação ao modelo presencial. A partir dos resultados encontrados, é possível otimizar o modelo remoto ao torná-lo mais dinâmico e menos cansativo para os alunos.
Esperava-se e organizaram-se todas as atividades teóricas e práticas de forma remota, planejando que fosse viável trazer as práticas integrativas de forma remota
Um grupo de 40 terapeutas especializados e pesquisadores em PICs foi convidado
Foi possível ter experiências com palestrantes de todo o Brasil, o que não teria sido tão fácil no modelo presencial. O presente relato demonstra, portanto, a possibilidade de ensinar e vivenciar as PICs de maneira remota, ainda que haja algumas perdas com relação ao modelo presencial. Alunos relataram a aquisição de técnicas para seu próprio bem-estar, superando a aplicação clínica. Foram poucas as avaliações negativas à disciplina, e houve compreensão quanto às limitações do modelo remoto. Alguns alunos reclamaram que a disciplina foi um pouco cansativa devido ao modelo online.
O modelo virtual foi o maior desafio enfrentado, tendo trazido problemas técnicos e comprometendo a vivência prática das PICs. Foi possível desenvolver todas as atividades através de encontros síncronos por videoconferência e os alunos demonstraram compreender as limitações impostas pela pandemia
Embora haja algumas perdas com relação ao modelo presencial, é possível ensinar e vivenciar as PICs de maneira remota. São técnicas essenciais para a formação médica. É possível otimizar o modelo remoto ao torná-lo mais dinâmico e menos cansativo para os alunos
Apesar do próprio SUS promover a integralidade do cuidado, o currículo médico ainda se restringe a uma visão biomédica e curativista. Considerando que mais de 80% da população faz uso de alguma Prática Integrativa e Complementar (PICs), é essencial que os profissionais da saúde se capacitem para lidar com essa realidade. Pensando na importância de trazer estas discussões à tona, a Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB-UNESP), desde 2015, conseguiu incluir de forma curricular e obrigatória a todos os alunos uma disciplina sobre PICs.
A disciplina é ofertada ao quarto ano médico, de forma imersiva em uma semana integral. Como metodologia pedagógica, adotam-se aulas, palestras, rodas de conversa e oficinas de vivências práticas de diversas PICs, sendo todas estas atividades presenciais. No cenário da pandemia, foi necessário abrir mão das atividades presenciais e realizá-las apenas de maneira virtual.
A Semana Terapêutica de 2021 foi realizada de maneira integralmente virtual, com palestras, aulas e oficinas práticas. Contou com mais de 40 profissionais – inclusive um pajé e um médico fitoterapeuta da Floresta Amazônica -, entre palestras e oficinas práticas. Os alunos puderam escolher 6 das oficinas para conhecer e vivenciar. Cada convidado teve a liberdade de equilibrar uma exposição teórica com uma prática, em um grupo menor de 30 alunos. A parte prática era possível ser reproduzida mesmo à distância pelos alunos.
No fim de cada aula, os 93 alunos preenchiam um formulário anônimo dando sua avaliação a cada uma das práticas. A partir deles, foi possível avaliar que, apesar das limitações impostas pelo ensino remoto, a grande maioria deles seguiu avaliando a disciplina de maneira bastante positiva. 73,4% dos alunos entrevistados consideraram a disciplina como essencial na sua formação. 17,2% avaliaram como “útil, mas não essencial”; 6,3% como “pouco útil” e 3,1% como “inútil”. Comparativamente aos outros anos, em que a disciplina foi presencial estes índices não sofreram grandes alterações.
Com relação à avaliação do modelo remoto, os alunos demonstraram compreensão sobre as limitações, embora muitos tenham expressado desejo de poder vivenciar as atividades de maneira presencial, em especial as oficinas práticas relativas às PICs. Quanto às críticas a esse modelo, uma parte dos alunos relatou que o tempo de exposição à tela foi bastante cansativo, e que o modelo virtual teria sido mais exaustivo que o presencial. Por fim, houve alguns problemas técnicos relativos à estabilidade de conexão e utilização das ferramentas virtuais que, no entanto, não prejudicaram o transcorrer do curso de maneira significativa.
Ainda que encontradas algumas barreiras para a realização do ensino remoto, o curso como um todo atendeu às expectativas dos alunos e atingiu o objetivo de introduzi-los às PICs. Além disso, foi possível ter experiências com palestrantes de todo o Brasil, o que não teria sido tão fácil no modelo presencial. O presente relato demonstra, portanto, a possibilidade de ensinar e vivenciar as PICs de maneira remota, ainda que haja algumas perdas com relação ao modelo presencial. A partir dos resultados encontrados, é possível otimizar o modelo remoto ao torná-lo mais dinâmico e menos cansativo para os alunos.
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Professora Doutora do Departamento de Saúde Pública da Faculdade de Medicina
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karina.pavao@unesp.br
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