Ao final do meu doutorado em Saúde Pública, na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, fui indicada pelo Prof. Delsio Natal, a pedido da Profa. Angela Cuenca, então Diretora da Biblioteca da FSP, a participar do projeto de revisão da estrutura DeCS, em 2003. Por meio dessa experiência, tive a oportunidade de conviver mais proximamente com docentes desta faculdade e especialistas que haviam sido convidados como consultores de área. Mais do que isso: revisar a estrutura DeCS me fez estudar e conhecer com mais precisão, todo um referencial teórico-conceitual em Saúde Pública. Isso porque meu doutorado era sobre entomologia médica algo bem específico e técnico e confesso que, quando me foi apresentada a proposta de trabalho, não me senti segura nem capacitada para tal.
Minha parceira de trabalho, a bibliotecária Maria Lúcia Ferraz, me ensinou muito sobre acesso e uso das bases bibliográficas, mas também sobre o processo de indexação de registros nessas bases – o que era fundamental no contexto de revisão da estrutura DeCS. Esse convívio, além do trabalho intenso, me trouxe ricas lições de vida e uma querida amiga.
A experiência de organizar o DeCS como vocabulário controlado foi um desafio à parte e para enfrentá-lo me envolvi no Programa Educativo da Biblioteca da FSP/USP e em outro projeto parceiro da Biblioteca da FSP com a BIREME/OPAS/OMS: o de revisão de estratégias para as áreas temáticas da BVS-SP, pioneira e referência entre outras bibliotecas da rede.
A participação no Programa Educativo me ajudou a dimensionar a diversidade de demandas e perfis de usuários da informação em saúde pública. Essa aproximação com o universo do usuário da informação foi fundamental para o processo de revisão da estrutura DeCS e estratégias de busca para as áreas temáticas em Saúde Pública. Como capacitadora do Programa Educativo, participei de vários cursos e treinamentos, colaborei nas disciplinas de graduação e pós-graduação no que diz respeito ao acesso e uso de bases bibliográficas, cursos especiais (promotores de justiça, gestores em saúde, líderes comunitários, entre outros), cursos do Programa de Verão da FSP etc. Essas oportunidades me exigiram falar sobre o mesmo conteúdo em demonstrações com 1 hora de duração a cursos teórico-práticos com carga horária de 20 horas ou mais, mais extensivos (disciplinas regulares de graduação ou pós) ou intensivos (curso de Verão, com 1 semana de duração), mais homogêneos ou mais diversificados.
O aprendizado sobre o vocabulário DeCS foi posto à prova com minha inclusão na equipe editorial da Revista de Saúde Pública para fazer a seleção dos descritores dos artigos publicados, atividade que mantenho até hoje.
O conjunto dessas atividades agregou muito à minha formação: passei a dominar termos usuais em saúde pública com rigor teórico-conceitual, desenvolvi minha capacidade didática, aprendi a usar as bases bibliográficas com bastante autonomia e para buscas de informação sobre os mais diversos temas na tentativa de auxiliar os alunos em suas demandas, aprendi até a fazer indexação no LILDBI-Web! Isso sem contar com as lições de vida: conheci muita gente, na Biblioteca, na FSP/USP, na Bireme e nos cursos, aprendi a trabalhar em equipe e gerenciar meu tempo entre tarefas diversificadas (minha pesquisa de doutorado era bastante solitária e focada), enfim…difícil citar todos os nomes, mas fico feliz em manter amizades e parcerias de trabalho que se iniciaram naquele contexto.
Em 2006 me inscrevi no processo seletivo para docente na recém-inaugurada Escola de Artes, Ciências e Humanidades – EACH/USP, ou USP-Leste, como ficou mais conhecida. Fui aprovada, convicta de que sem toda essa trajetória nos projetos BVS-SP eu não teria tido êxito. Isso porque a vaga exigia perfil interdisciplinar e generalista, para atuar no ciclo básico, que integra 10 cursos de graduação e, mais especificamente, no curso de Gestão Ambiental.
Outro desdobramento disso foi a inclusão do Glossário no livro “Saúde Pública: bases conceituais”, publicado em 2008 e reeditado em 2013. O Glossário é um desdobramento da revisão do vocabulário DeCS.
Assim, procurei espaços na Escola para replicar as experiências bem sucedidas no Programa Educativo e incluir nas disciplinas que ministro, na medida do possível, orientações sobre acesso e uso de bases bibliográficas; também ministrei os treinamentos em atividades de extensão, como curso de Verão, em cursos para professores da rede pública, mini-curso da Semana de Gestão Ambiental e outras oportunidades. As pessoas continuam se surpreendendo com as possibilidades de acesso à informação através das bibliotecas virtuais.
Como o idioma continua sendo uma barreira frequente entre alunos de graduação, as BVs dão conta das necessidades dos alunos, cumprindo sua missão de prover acesso universal e gratuito à informação técnico-científica de forma acessível.